Resenha: Para Sempre Alice, Lisa Genova

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"Querida Alice,    

   Você escreveu esta carta para si mesma quando estava em seu juízo perfeito. Se estiver lendo isto e não conseguir responder a uma ou mais das seguintes perguntas, é porque já não está em seu juízo perfeito. 

   Em que mês estamos?     

 Onde você mora?     

 Onde fica o seu escritório?     

 Qual é a data de nascimento de Anna?     

Quantos filhos você tem?"    




    Hoje vou comentar sobre um livro emocionante, verossímil e para alguns, especial. Escrito por Lisa Genova, neurocientista americana, o livro foi publicado inicialmente por ela mesma, até ganhar popularidade e ser adquirido pela Simon & Schuster, em 2009. O nome de Genova é acompanhado de adjetivos que impressionam: ela é graduada valedictorian, summa cum laude pela Bates College com um diploma em Psicologia e é Ph.D. (doutora) em Neurociência pela Universidade de Harvard. Não entendeu? Deixe-me elucidar. Os termos latinos valedictorian e summa cum laude informam através de seu significado, que Lisa foi uma das melhores alunas da turma, que está no mais alto nível de conhecimento por ter atingindo as mais altas notas, obtendo a máxima qualificação possível. Incrível, não? 
      No vídeo abaixo, a autora comenta sobre sua jornada de publicação independente. Ela diz que não estava nos seus planos tornar-se escritora, mas sim ser uma neurocientista. A sua avó foi diagnosticada com a Doença de Alzheimer e como a neurocientista da família, Lisa tomou como responsabilidade aprender o máximo que pudesse sobre o assunto. Ela aprendeu muitas coisas que a ajudaram mas ainda assim não sabia como se sentia uma pessoa portadora da Doença. E essa questão foi a razão, o motivo para escrever Para Sempre Alice.



     Para Sempre Alice conta a história de Alice Howland, professora e pesquisadora na Universidade de Harvard, renomada na área da linguística. Sua rotina envolve atividades complexas e que necessitam de concentração, raciocínio e análise, devido à sua vida acadêmica. Alice lê trabalhos para orientar seus alunos, prepara aulas, discursos para conferências e revisa e publica artigos científicos. A memória é vital para o exercício dessas atividades.
     Alice é conhecida por ter uma memória excelente e por nunca falhar durante suas explicações, mas um dia ela  esquece uma palavra-chave de sua matéria, a palavra estava na ponta da língua, mas Alice não conseguiu proferi-la no momento. Lembrou horas depois, mas não se preocupou tanto com isso, afinal todos esquecem algo aqui e ali. Mas é aí que surge o problema: Alice é jovem, por isso não suspeitou de uma doença neuro-degenerativa como o Alzheimer, que geralmente afeta pessoas maiores de 65 anos. 

    
    Conforme o tempo passa, acompanhamos a história da professora de Harvard de setembro de 2003 até setembro de 2005. No início, Alice esquece o nome de alguma coisa, onde colocou suas chaves, que deveria ter respondido um e-mail... O caminho de volta para casa. É interessante ler e perceber ao avançar na leitura, como o quadro de Alice se agrava cada vez mais. Vale ressaltar que todas as informações do livro foram escritas por um especialista no assunto, ou seja, baseiam-se na mais pura realidade. 
    Ao procurar auxílio, Alice descobre que sofre da Doença de Alzheimer de instalação precoce e que seus filhos podem ter a doença, através dos seus genes. Partindo desse ponto, o livro explora as relações de Alice com a sociedade acadêmica, com sua família e com si mesma. As atividades que ela vai ter que, lentamente, parar de realizar. Certos momentos que serão esquecidos enquanto outros vão sendo lentamente apagados de sua memória. Um livro excelente, que nos coloca no lugar de Alice, que nos faz refletir sobre o Alzheimer e compreender mais sobre a doença.

    
    É de conhecimento geral, pressuponho, que o Alzheimer é uma forma de demência neurodegenerativa sem cura que afeta as funções cognitivas do indivíduo, sendo a cognição o processo de adquirir conhecimento, incluindo estados mentais e processos como pensar, memorizar, prestar atenção, raciocinar entre outros. Se você não sabia disso, leia o livro e aprenderá muito mais sobre o assunto.
     Nos estágios iniciais da doença, a pessoa esquece objetos, onde guardou as chaves, que deveria ter ligado para seu advogado ontem, que tinha uma reunião marcada nesse exato horário e ainda está em casa. Mas conforme a doença avança, as perdas de memória são maiores, afetam gravemente a vida da pessoa. Com quem eu acabei de falar? Com meu marido ou com um homem qualquer? Eu moro aonde? Que bolo eu faço há vinte anos no Natal que só agora esqueci? Qual é o nome da minha filha? Onde fica o banheiro na minha casa?

     A pessoa com Alzheimer, nos últimos estágios, esquece-se como preparar comida, como pronunciar uma palavra, como usar um sutiã... Vai perdendo sua consciência e finalmente, sua autonomia. E isso tudo encontra-se no incrível livro de Lisa Genova. Alguns pontos me impressionaram, maior ainda foi o espanto ao me recordar que muitas das situações retratadas no livro são reais, não estão no campo da ficção para quem sofre com o Alzheimer. Sem falar no preconceito que pacientes com a doença sofrem.
    Leia Para Sempre Alice, com certeza vai mudar sua forma de ver certas coisas sobre a vida, como todo livro bom e que lida com emoções faz. O livro virou filme com Julianne Moore no papel principal, Kristen Stewart como a filha de Alice, Lydia, e Alec Baldwin como John, o marido da pesquisadora. Não vi o filme, mas sei que deve ser muito bom, recebeu prêmios e tal. O livro já é o suficiente pra mim. Denso, emocionante e em paralelo com a realidade. Alice Howland não vai ser esquecida pelos leitores deste livro.



Não Derrame Café no Seu Livro, por João Augusto

Spoiler alert!


     Não sabia que pessoas com Alzheimer não conseguiam ler livros, assistir filmes e ter uma conversa com alguém sem repetições. Alice não consegue ler livros porque não lembra-se do que se passou nas páginas anteriores. Alice não consegue ver um filme porque não consegue relacionar todas as cenas em um só contexto, não se lembra de certos personagens. Alice não consegue ler e falar ao mesmo tempo porque se perde no texto. Alice não consegue conversar porque não se lembra do que falou minutos antes e precisa repetir para tentar manter a fluidez da conversa. 




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