Resenha: La Belle Sauvage (vol.1 trilogia O Livro das Sombras), de Philip Pullman

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"Em Paris, coordenou um grupo de pesquisa sobre o campo Rusakov, aquela teoria sobre a consciência que deixa o Magisterium tão agitado. Ele escreveu um artigo defendendo que deve existir uma partícula associada ao campo e fez a extraordinária afirmação de que o Pó pode ser essa partícula."*



    Na noite de quatro de dezembro desse ano, eu defendi minha monografia (A linguagem e o tempo: um estudo em Agostinho, Benveniste e Bakhtin) e obtive aprovação. Para comemorar o acontecimento, fui à livraria escolher um livro para me presentear (como esperado vindo de um aluno de Letras). Escolhi La Belle Sauvage, primeiro volume da nova trilogia de Philip Pullman, O Livro das Sombras. Estava de olho no livro desde seu lançamento em outubro do ano passado, no original, e em novembro aqui no Brasil.
    Isso é uma coisa que estou a gostar em mim: salvo nas redes sociais as publicações com os livros que desejo ler, para não esquece-los, e quando tenho a oportunidade, são os primeiros na lista de compras. Assim evito me empolgar e comprar um livro qualquer que apareceu na tela. Não me importo de ficar um tempo namorando as histórias que quero ler: uma hora ou outra irei conhece-las.


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Nicole Kidman como Marisa Coulter em A Bússola de Ouro (2007).
    Eu já havia entrado em contato com a literatura de Pullman através de sua fantástica trilogia Fronteiras do Universo (His Dark Materials), composta por A Bússola de Ouro (Northern Lights/The Golden Compass), A Faca Sutil (The Subtle Knife) e A Luneta Âmbar (The Ambar Spyglass). Concordo com quem diz que essa é uma das melhores obras de fantasia que temos atualmente. A história do livro e minhas considerações sobre ele você pode conferir no vídeo acima. Aqui eu quero apenas destacar mais alguns pontos que me interessaram durante a leitura, como características dos personagens e do universo da narrativa.

    Sabemos, ao ler A Bússola de Ouro, que os cabelos da Sra. Coulter (uma das minhas personagens favoritas de todos os tempos) são descritos como longos e negros . Porém, em La Belle Sauvage, Pullman a descreve de outro modo. Vejamos um trecho de quando Malcolm a conhece e a impressão que ele tem dela: "Era a mulher mais linda que ele já tinha visto: jovem, cabelos dourados, rosto doce" (PULLMAN, 2017, p.200). No filme de 2007, quem interpreta (maravilhosamente) Marisa Coulter é Nicole Kidman, estonteante em sua beleza e atuação. Li em vários lugares que Pullman, após ter visto a performance de Nicole, disse  em uma entrevista estar claramente errado quanto à cor do cabelo da Sra. Coulter (que é loira no filme). Infelizmente, não consegui localizar a entrevista, do contrário a inseriria aqui. Agora, pensando em La Belle Sauvage: será que Pullman realmente fez essa alteração ou cometeu apenas um deslize pensando em Nicole? Ou Marisa tinge seus cabelos entre esse livro e o primeiro de Fronteiras do Universo? Dizem que novas edições do livro estão vindo com essa alteração na cor do cabelo da personagem. Alguém aí poderia confirmar? Eu não adquiri ainda os livros da trilogia Fronteiras do Universo e não tive acesso à nenhuma edição mais recente. Não gostaria de reproduzir fake news. De qualquer forma, a personagem não perderá seu encanto. São apenas detalhes que eu, como um fã, gostaria de compartilhar.
    Como vocês já devem saber, teremos em breve uma série televisiva de Fronteiras do Universo pela BBC, um sopro de ar fresco sobre a história lançada no final do século passado. Há uma nova chance de corrigir alguns erros do filme de 2007 e mostrar a riqueza dos mundos criados por Pullman. A atriz escolhida para interpretar Marisa Coulter é Ruth Wilson. Não lembro de ter assistido algo em que ela participava, mas bastou uma cena aleatória que encontrei no Youtube para ter uma ideia. Aposto minhas fichas nela. Parece uma ótima escolha! (teremos uma Sra. Coulter loira ou morena?)
Resultado de imagem para ruth wilson 2018    Outra questão interessante e que poderia ser estudada, se eu fosse um catedrático ou teólogo experimental do mundo de Lyra. Pullman nos diz que os daemons (e se você ainda não sabe o que eles são, assista o vídeo do início!) não são um ser à parte: uma pessoa e seu daemon são o mesmo ser. Apesar de vermos sempre os daemons como a "voz da consciência", aconselhando, ajudando e repreendendo as personagens (vejam o caso de Pantalaimon e Lyra logo no primeiro capítulo de A Bússola de Ouro), em La Belle Sauvage o autor frisa: eles não podem ter ideias diferentes, pois compartilham a mesma mente, se pudermos colocar assim. Vejamos um trecho do início de La Belle: "Mas as intuições de seu daemon se mostravam confiáveis muitas vezes. Claro, ele [Malcolm] e Asta eram um ser só, então as intuições de qualquer forma eram dele, assim como suas impressões eram do daemon" (PULLMAN, 2017, p.18). Será que os daemons têm um nível de consciência mais profundo do que os humanos, já que não podemos dizer que sabem mais do que eles? Algo me diz que o Pó está relacionado.
    Em alguns momentos notei que, ao falarem, as pessoas no mundo de Lyra alternam entre primeira pessoa do singular e primeira pessoa do plural, se referindo a si mesmas e a si e seu daemon, respectivamente. Observe como o daemon de Malcolm fala com ele quando estão à espreita: "Vá para casa - sugeriu Asta. - No caso de terem visto a gente" (PULLMAN, 2017, p.29). Asta aconselha Malcolm a ir para casa (consequentemente, ela o acompanhará) e logo em seguida se refere a si e a Malcolm juntos, como " a gente", ou seja, nós. Apesar de daemon e pessoa serem unos, por vezes seus discursos distinguem os dois. Em certo momento uma pessoa poderia dizer, por exemplo, "Eu fui à faculdade" (mesmo que se refira somente a si enquanto pessoa, também se refere ao daemon, que a acompanhou, exceto se a pessoa for, por exemplo, uma feiticeira, que pode viajar à longa distância de seu daemon). Em outro caso, após conversar com seu daemon, alguém poderia dizer, "Foi o que pensamos", se referindo aos dois. Espero ter sido claro e não ter confundido o leitor e a leitora. A gente vai fundo quando gosta do assunto, não é? Mas falar sobre daemons e Pó no nosso mundo não tem muita validade.
    Espero que tenham gostado do vídeo e de minhas divagações (e se não gostaram, me deixem saber o motivo). Sintam-se à vontade nos comentários. Se inscrevam no canal e no blog e compartilhem, por gentileza. Até a próxima.




* PULLMAN, Philip. La Belle Sauvage: O Livro das Sombras - vol.1. Rio de Janeiro: Suma, 2017. (p.255)

Não Derrame Café no Seu Livro, por João Augusto




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